domingo, março 1

O futsal faz parte da minha vida - Gilson Piber*

O futsal faz parte da minha vida
Gilson Piber*


A convite do jornalista, radialista e professor de Educação Física, Clery Quinhones de Lima, volto a escrever sobre futsal, uma modalidade esportiva que aprendi a gostar ainda como criança, na segunda década dos anos 70, nos tempos em que morava na rua Gonçalves Dias, no bairro Perpétuo Socorro, em Santa Maria (RS).

Graças aos amigos e ao Areião Esporte Clube, fundado em 23 de dezembro de 1978, foi possível conhecer e praticar o futsal, naquela época chamado de “futebol de salão, o esporte da bola pesada”. Os primeiros chutes na quadra de areia localizada no terreno do seu Luiz Coelho, marido da dona Ivone e pai do José Fernando e do Paulo Roberto, foram fundamentais na então formação esportiva, e porque não dizer no aprendizado pessoal, de muitos garotos como eu. No começo, era tudo diversão. Depois, virou competição, com os torneios disputados nas quadras do Clube Atirador Esportivo, do Colégio Santa Catarina, da Escola Perpétuo Socorro e do Clube 21 de Abril, entre outras tantas.

Os embates do time adulto do Areião contra América, Zebrão, Kinta Dimensão e Bandeirantes, na quadra do Esportivo, eram duros, acirrados e bem disputados. Nossa torcida ficava no lado oposto da entrada na quadra. Na contabilidade dos jogos e da luta pelos títulos, o Areião saiu mais vezes vencedor. Papico, Eldio, Lídio, Jacaré e Chico formaram um quinteto espetacular, com as opções do saudoso José Paulo Pedron, o Cem, José Fernando, Baiano, Caco, Céinho, Tonico, Necco Vaz, os técnicos Luiz Crescêncio e Ito, e os dirigentes Luiz Coelho, Celésio Pippi, Glenir Sant´Anna e Walter Link. Não dá para esquecer dos atletas Nei Peixoto, Fininho, Glenir, Lixa, Nero, Flávio, Vilmar e Iedo, entre tantos outros. As esposas, as namoradas, os filhos (as) e demais parentes, enfim, formavam a família do Areião. O time até disputou o Citadino numa temporada, mas sem o mesmo êxito das competições comunitárias. Valeu a experiência.

De 1986 a 1989, cursamos Jornalismo na UFSM, mas o futsal não saía de cena. Os jogos eram realizados nas quadras do Parque Itaimbé, quase sempre aos sábados à tarde. O nosso quinteto tinha Romeu, Danilo, Gilson, Adriano e Angelo. Não perdemos um jogo sequer e saímos invictos do curso. É verdade e todos estão vivos para confirmar.

No jornal A Razão, a partir de dezembro de 1989, começou a fase de jornalista profissional. Cobrir os Citadinos de Futsal e outros torneios era pauta certa, inclusive acompanhando até o final os jogos no CDM. Com o time de A Razão em quadra e sob o comando do técnico Claudemir Pereira, ficamos em 3º lugar no Campeonato do Sesi, em 1991. Guardamos o mimo – um mini troféu – ganho pela conquista até hoje. Um período de enorme aprendizado com a equipe jornalística e esportiva de A Razão, sem falar nas novas amizades firmadas graças ao esporte.

Em 1993, uma nova porta se abriu, por meio do convite do jornalista Claudemir Pereira, então editor do jornal Pioneiro, para trabalhar na editoria de Esportes daquele impresso de Caxias do Sul. O futsal cruzou o nosso caminho novamente, na cobertura dos jogos da Enxuta e do Vasco da Gama no Estadual de Futsal. Os times da região – ACBF (Carlos Barbosa), Galera (Nova Prata), Lagoense (Lagoa Vermelha), entre outros – também tinham acompanhamento do jornal.

A Enxuta retomou, em 1993, a hegemonia do futsal gaúcho, perdida para a SER Itaqui (1991) e Perdigão/Marau (1992). Sob o comando do técnico Jari da Rocha, o Jarico, o time caxiense precisou de três jogos contra a SER Itaqui para ficar com o título. Ganhou o primeiro em casa (7 a 6), perdeu o segundo fora (6 a 4) e venceu o terceiro (5 a 3), também disputado na fronteira oeste. Jarico contava com os goleiros Glauco, Augusto e Almir, os fixos Ike, Giba e Júnior, os alas Bela, Tchelo, Guga, Cesinha e Leonardo, e os pivôs Jorginho, Roberto e Leco.

Em 1994, a Enxuta foi bicampeã gaúcha ao superar a Perdigão/Marau e, em 1995, tri ao ganhar da Lagoense. Depois, o time caxiense encerrou as atividades do departamento de futsal. A seguir, veio a etapa de êxito da ACBF, de Carlos Barbosa, nas quadras, com dez conquistas do estadual (1996, 1997, 1999, 2002, 2004, 2008, 2009, 2010, 2012 e 2013).

O sonho de cobrir uma fase final de Taça Brasil de Clubes de Futsal foi concretizado em 1994, pelo jornal Pioneiro. O torneio foi disputado em Natal (RN), no ginásio Humberto Nesi, o Machadinho, que acabou demolido em 2011 para dar lugar à Arena das Dunas. A Enxuta, do técnico Eugênio Portillo, foi a representante gaúcha. O time caxiense fez a decisão com a Inpacel, de Arapoti (PR), e perdeu o título na prorrogação. No tempo normal, o jogo foi 1 a 1, gols de Índio (I) e Bicudo (E). Na prorrogação, Índio marcou mais dois gols e o time do técnico Fernando Ferretti ficou com a taça. A Inpacel tinha um timaço, formado por Serginho, Waguinho, Vander Iacovino, Manoel Tobias, Ortiz, Índio, Danilo, Fininho, Edinho e Paulinho. No grupo da Enxuta, Augusto, Serginho, Bela, Tchelo, Jorginho, Edésio, Manta, Bicudo, Giba e Leandro. Para um jornalista novato, foi muito interessante atravessar o Brasil e ficar quase dez dias respirando futsal da mais alta qualidade.

Em 1995, já de volta a Santa Maria, após ser aprovado em concurso público na UFSM, veio o convite do então presidente da Federação Gaúcha de Futebol de Salão (FGFS), Léo Evandro Tubino Fraga, para atuarmos como assessor de imprensa do XX Campeonato Brasileiro de Seleções de Futsal, categoria principal. O torneio foi disputado em Porto Alegre (RS), no ginásio Tesourinha. O Rio Grande do Sul, sob o comando de Alexandre Zilles, o Barata, conquistou o título, o quinto na caminhada, ao derrotar São Paulo na decisão. Foi um belo aprendizado pela convivência com dirigentes, técnicos e atletas de todo o país, bem como colegas de imprensa.

Santa Maria sempre teve prestígio e competência para sediar torneios de futsal. Em 1988, o Centro Desportivo Municipal (CDM) abrigou os jogos do hexagonal final do Estadual. O Pozzobon representou a cidade e obteve a 3ª colocação, a melhor de equipes adultas locais no campeonato. A Enxuta, de Caxias do Sul, foi a campeã, com o Inter-PA na 2ª posição. Também participaram Olympia, de Santo Ângelo, Teresópolis, de Porto Alegre, e Portuária, de Rio Grande. No grupo do Pozzobon, sob o comando do técnico Leonardo Colvero, os jogadores Chico, Moroni, Guaragibe, Gilson, Uberlei, Chico Quaraí, Jacó, Miguelzinho, Tito, Milton, Gilberto e Acelino.

O município também sediou uma fase eliminatória da XVII Taça Brasil de Futsal. Foi em 1990, com partidas no CDM. A Votorantim (PE), de Mazureik, Manoel Tobias, Bicudo, Rabicó e cia, foi a vencedora da etapa. A Enxuta, de Caxias do Sul, finalizou na 2ª colocação. Sadia (SC), Aliança (CE), Clube Jaó (GO) e Eletropaulo (SP) também disputaram a fase.

Inúmeras são as vitórias consagradoras de times do futsal santa-mariense. Optamos por ressaltar duas. A primeira foi em um quadrangular do Estadual de Futsal de 1987, disputado no ginásio do Corintians, em Santa Maria. O Pozzobon, do técnico Leonardo Colvero, aplicou 6 a 1 na Trilhotero, de Pelotas, gols de Milton (4), Guaragibe e Nardela. O resultado classificou a equipe de Santa Maria para o hexagonal final do certame, a ser disputado em Cruz Alta, onde o Pozzobon obteve o 4° lugar. Em 1997, com o ginásio do Corintians lotado, o Jobi fez 6 a 4 na poderosa ACBF, de Carlos Barbosa, pelo Estadual da Série Ouro. O vice-prefeito na época, Marineu Ziani, teve de entregar a taça comemorativa ao aniversário da cidade para o Jobi. A equipe dirigida por Leonardo Colvero teve Guto, Sandro, Domênico, Robson Camarão e Lorenzo. As opções eram Beto, Gilson, Iso, Zeco, Gonha, Lisandro e Emerson. Os gols do Jobi foram marcados por Sandro (2), Lisandro (2), Lorenzo e Emerson. A equipe foi a 7ª colocada no Estadual de Futsal de 1997.

Pela projeção que atingiu, consideramos o pivô Lorenzo Engel Fontana como o jogador de maior destaque do futsal de Santa Maria. Depois de atuar na Associação Santa Maria e no Jobi, Lorenzo passou pela Perdigão/, UPF/Passo Fundo e Ulbra/Canoas, onde foi campeão da Liga Futsal em 2002. O pivô era habilidoso, goleador e chegou a ser pré-selecionado para integrar a Seleção Gaúcha. Tinha uma técnica apurada, que dava muito trabalho aos marcadores. No exterior, Lorenzo jogou no Luparense, da Itália, e no Cartagena, Benicarló, Azkar Lugo e Marfil Santa Coloma, todos clubes da Espanha. No Marfil, também foi dirigente. Em 2012, assumiu a função de supervisor administrativo no futsal do Corinthians (SP).

Pozzobon, Portella, Brahma, APUL, Pepsi, Dínamo, Alvorada, Rizzatto, Banrisul, SM Ferramentas, Salão Universitário, Caldas Jr. Carlesso e Copetti, Foreves, AABB, Cruz Vermelha, Mecânica Dellamea, Clarion, Chapecó, Ouro Verde, Transfortesul e os times dos clubes Santamariense, Esportivo, Dores e Socepe marcaram época nos anos 80 e 90 do futebol santa-mariense. Nos anos seguintes, o Dores/Bambino, a Associação Santa Maria/Brandt, a Raízes, o Fóton/Centrosul e a Fames, também, contribuíram para colocar o nome Santa Maria em destaque no cenário estadual. Em 2014, América e União Independente disputaram o Estadual da Série Bronze.

Luiz Caxias, Leonardo Colvero, Cláudio Pacheco, Mauro Xavier, Betinho, Pancho, Diniz, Flamarion Trindade, José Lima, Michel Saad, Necco Vaz, Nardela, Pito, Guto, Luiz Fernando Dida Nunes, Alexandre Lobo, Wella, Boquita, Keller, Bitencourt, João Hugo Da Cas Filho, Kennedy, Cabeto, Gilmar Flores, Pedrinho Stangherlin, seu Eli, Lixa, Bochecha, Adonato Alves, Emil Salamoni, Nelson Link, José Mariano Beltrame, João Souza, Antonio Tessis, Neneco, José Soldati, Odilo Ravanello, Paulo Brandt, Zoé Dalmora, Edgar Vaz, Paulo Augusto Irion, Ari Vilmar Barroso, Luiz Carlos Druzian, Waldemar Carvalho, os irmãos Flávio e Hélio Portella, Jânio Costa, Doraci Vendruscolo, Ary Renan Schuch, Sérgio Silva, Cláudio Ávila, Carlinhos Lopes, Ladário Souza, Flávio Martellet, Vicente Jacoboski, Renato Conceição, Sérgio Gonçalves, Argeu da Silva, Oswaldir Dutra, Job Vasconcelos, Dirseu Castiglioni, os irmãos Almir, Emir e Valmir Torres, Enio Krauchemberg, Moacir Almeida, Ubirajara Laranjeira, Carlos Polenta Bertagnoli, Jorge Roscoff, os irmãos Chico e Dosley Alemão Prates, Afonso Brum, os irmãos Arizoli e Fernando Lencina, Carlos Della Méa, Pedro Aguiar, Sandro Colvero, Zula, Marcelo Jaques, Claudio Oliveira, entre tantos outros, são figuras importantes na história recente do futsal santa-mariense. Algumas jogaram, outras não. Porém, todas trabalharam fora das quadras para que o futsal de Santa Maria brilhasse dentro das quatro linhas.

Sobre jogadores de futsal que vi atuar nas quadras locais, ousei fazer uma convocação:

Goleiros – Chico, Moroni, Polenta, França, Papico, Gérson, Ciro, Guto, Taffarel, Dunga e Cristian.

Alas – Jacó, Dôli, Mineiro, Gilson, Banana, Getúlio, Glauco, Ipojucan, Eduardo, Gelton, Gilberto, Guaragibe, Nardela, Paulinho, Dalcol, Elton, Vanderlei, Robson Camarão, Moskito, Iso, Zeco, Cristian, Rodrigo e Lisandro.

Beques (fixos) – Neco, Uberlei, Leley, Schittler, Ianco, Facó, PC, Dinei, Neneco, Luís Henrique, Domênico e Gonha.

Pivôs (frentes) – Tocchetto, Pelego, Breno, Jair, Fico, Zeca, Pito, Batista, Teco, Lorenzo, Huguinho, Mauro e Emerson.

Se pudesse escalar dois times para um confronto no ginásio do Corintians, um dos quintetos começaria com Chico, Jacó, Uberlei, Gilson e Tocchetto. A outra formação iniciaria com Moroni, Paulinho, Facó, Gilberto e Breno. Não sei qual time ganharia. A única certeza é que o espetáculo seria imperdível.


*Jornalista concursado da UFSM, atua no Núcleo de Rádios da instituição – Rádio Universidade 800 AM e UniFM 107.9 MHz. É radialista e foi professor por 15 anos do curso de Jornalismo da Universidade Franciscana. Foi comentarista esportivo da Rádio Guarathan. É doutor em Ciências da Comunicação pela Unisinos/RS. Autor do livro O futsal em Santa Maria: fragmentos históricos – de 1956 a 1970, com o professor Sérgio Carvalho.

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