Existem casos e casos no futebol. Assim como em Pelotas tivemos o caso do famoso pênalti mais demorado a ser executado, em Rio Grande não foi diferente, pois lá também tivemos um caso insólito no futebol, ocorrido lá pelo início da década de 1950. Contam alguns, como verdadeiro, o que vou a seguir narrar. Duelavam, naquela oportunidade, as equipes do Vila Verde e do Gaúcho do Matadouro, pela decisão do campeonato riograndino de futebol amador. Como era comum na época, não havia árbitro designado pela liga. A escolha era feita aleatoriamente, entre os presentes, que recaia quase sempre sobre algum ex-atleta ou alguém entendido no assunto, que era gentilmente convidado pelos capitães, o qual explicava aos atletas que não iria aceitar reclamações de ninguém, que iria expulsar, etc. e tal. E a escolha recaiu sobre um tal de Chico Cachaça, pessoa muito conhecida de todos, que se encontrava presente naquela oportunidade.
Chovia a cântaros, campo completamente encharcado, bola vai, bola vem, o jogo encaminhando-se para o seu final, as torcidas inflamadas, quando um tal de Saci, o principal astro do Gaúcho, um crioulinho alto e magrela, disparou um “pataço” de fora da grande área, tendo a bola (que era fabricada pela riograndina Atlântica), daquelas de “tento” e já toda bicuda, parado em uma poça d´água que se formara, bem em cima da linha de gol. Formou-se a maior confusão, a torcida do Gaúcho gritava gol, o pessoal do Vila dizia que a bola não entrara.
Foram todos (homens e mulheres) para cima do Chico Cachaça que não teve dúvidas, atirou o apito para o alto e deu no pé, pois sabia que se desse o gol apanharia, e se não desse apanharia também, indo refugiar-se no posto policial da localidade, lá pras bandas do Bolacha. As torcidas, em bandos, foram atrás, entretanto nosso juiz, agora protegido, prometia que no dia seguinte entregaria a súmula do jogo, com a sua decisão sobre o acontecido. No prazo estipulado, na presença do presidente da liga, diretores e alguns jogadores das duas equipes, veio o tão esperado veredito do agora famoso “referee”. Estava lá escrito, em letras garrafais: “Terminei a partida aos 40 minutos do segundo tempo, por falta de garantias, em virtude de um grande tumulto provocada pelas duas torcidas, tendo o placar apresentado a vitória do Gaúcho por meio gol a zero”. Nada disso teria acontecido se o nosso Chiquinho fosse um pouco mais letrado e conhecedor das regras básicas da International Bord (IFAB), que diz, em sua regra nº 10: “O gol somente será validado quando a bola ultrapassar totalmente a linha de fundo, entre as traves laterais verticais e por baixo do travessão horizontal”. Entretanto, querendo ser simpático e ficar de bem com todos, agradando gregos e troianos, tomou aquela decisão inusitada, criando um problemão para o TJD da entidade.
Até hoje ninguém sabe qual a equipe campeã, bem como o resultado final da partida. Dizem que o fato é verdadeiro e que se acha documentado, “dormindo” nos alfarrábios da Liga Riograndina de futebol, com fotos anexadas por Raymundo Anselmi, um famoso fotógrafo que, na época, era editor do Jornal Centenário, de Rio Grande.
Bebeto Silveira
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